terça-feira, 16 de outubro de 2007

Acerca de Pessoas


Penso que quem trabalha com pessoas, não deveria se prender muito as regras. Sim, é uma opinião que contradiz toda uma regra de seguir planilhas, procedimentos e normas. Porque seguir regras não se aplica as pessoas? Simples, porque pessoas não são iguais. Não são produtos vindos de uma linha de produção onde temos rebarbas ou gargalos, pessoas não obedecem à velha regra de “estragou troca” e muito menos viram sucatas recicláveis.

Pessoas são únicas. Indivíduos complexos ainda não desvendados totalmente, mesmo que suas nuances sejam conhecidas de alguns psicólogos e médicos. Esses, os profissionais da saúde são os que mais devem ter desapego às regras. Como avaliar que um caso é mais grave que outro? Como saber o que sente alguém doente cansado de lutar pela vida e solitário? Como saber que pensamentos permeiam as noites de um acamado com câncer? Como saber se um beijo de um filho para sua mãe, não seria o último mesmo que fora do horário de visita?

Os profissionais da saúde devem ser profissionais corajosos que lutam pela vida, mas principalmente, pela capacidade de analisar critérios tão subjetivos para quebrar regras e responder pelas suas decisões quanto a quebra destas. Porque a minha mãe, a sua mãe, seu filho, o filho da vizinha, o papa, o mendigo, o primo da empregada... todos são exceções, pelo simples fato de serem pessoas. Ou você acredita que é igual a outro alguém?

É impossível encaixar situações que lidam com doença nas tão analisadas planilhas que fornecem estatísticas de vida e de morte. Cada caso é um caso, você diria. Eu digo que alguns profissionais da área da saúde têm medo de assumirem uma decisão que contrarie uma regra criada por um burocrata que não quer ter problemas administrando exceções, porque não quer ter re-trabalho calculando de novo suas estatísticas que só mostram aquilo que ele veria se estivesse mais junto ao cliente. Que neste caso, são os doentes.

“Ah! Mas ela está pelo SUS” você diria, “se estivesse num quarto particular, você poderia ver sua mãezinha das 7:00 às 22:00”. Quando ela morrer, quando você morrer, quando qualquer um de nós morrermos, não existirá Sus, não existirá quarto particular e principalmente, não existirão planilhas, somente existirá um profissional da área da saúde, orgulhoso e tranqüilo, porque cumpriu as regras. Mais um produto da linha de produção vai para sucata, porque não serve mais. E neste caso me refiro não só ao morto, mas também ao profissional da área da saúde. Este morreu, porque perdeu o senso de humanidade que a analise da exceção proporciona.

Nenhum comentário: